Entrevista exclusiva com o MC Rashid e resenha de faixas da mixtape "Que Assim Seja"

Por: Paula Farias

Olhar de menino com postura e responsabilidade de gente grande, o Mc Rashid que começou na Rinha de MC’S do Santa Cruz é hoje um dos grandes nomes da nova geração do rap nacional.

Geração essa que ao contrário do que muitos dizem ou pensam tem sim uma forte influência e inspiração em grandes nomes do rap como Mano Brown, Dexter, Eduardo-Facção Central, Douglas-Realidade Cruel, é a história do rap que continua sendo escrita por cada um ao seu modo, relatando suas experiências e lutando pela cultura.

Para  Rashid,  2012 não poderia ter começado de forma melhor sua nova Mixtape “Que Assim Seja” já é um grande sucesso.

Um novo trabalho que veio para consolidar ainda mais a carreira do MC,  e que traz uma evolução explícita em cada rima em cada letra.

E o rapper que viaja o Brasil inteiro, participa de várias matérias para os mais variados veículos de comunicação, fez questão de conceder pessoalmente uma entrevista exclusiva para o Portal Rap Nacional. E ainda fez uma resenha de 10 faixas da nova mixtape explicando o significado de cada música.

Confira agora entrevista com Rashid

 

Portal Rap Nacional: Como foi o processo de produção da sua nova mixtape “Que Assim Seja”?

Rashid: Foi o processo mais longo.  Eu comecei a fazer as músicas dessa mixtape desde junho do ano passado que foi quando eu tinha acabado de lançar a mixtape anterior “Dádiva e Divida” . Eu tinha acabado de lançar e já estava fazendo novas músicas porque eu estava em um momento da hora.

Eu morava no Lauzane e tinhamos um estúdio em cima da nossa casa então foi muito fácil de fazer as músicas eu subia e tinha liberdade total de criação. Tinha as ideias e já gravava na hora para não perder nada, isso ajudo muito até porque esse é o meu trabalho que tem mais músicas são 20 no total eu fiz muitas coisas de junho até mais ou menos dezembro de 2011.

A partir daí começamos a gravar. Eu cheguei a fazer 2 músicas já em 2012 pra complementar o trabalho, foi da hora foi muito livre acho que esse é o meu trabalho mais livre, porque eu estava sozinho no estúdio e tinha tempo para pensar e executar e tentar novas coisas eu mesmo explorei a minha voz porque eu estava sozinho só eu e o microfone. E o resultado ficou da hora.

P.R.N: Nesse novo trabalho como foi a escolha do repertório, a inspiração na hora de compor?

Rashid: Nos discos anteriores eu fazia as músicas já pensando: “isso aqui será para um EP ou uma mixtape” . Dessa  vez não,  eu fui escrevendo as músicas sem a pretensão só com a intenção de fazer uma parada mas sem saber quando, eu simplesmente fui fazendo. Quando  parei para juntar  vi que tinha um material da hora e resolvi coloca na rua.

E cada música traz um tipo de inspiração diferente cada música tem uma história por traz dela desde experiências próprias, um momento que a gente vive aqui de repente pode virar uma música, coisas que eu vejo , ouço, ou tenha vontade de falar, eu estou ali acompanhando o jornal e  vejo varias paradas e aquilo vai se acumulando na minha cabeça e ai quando paro e escrevo surge uma “V de Vingança”, por exemplo que junta vários fatos que virou um desabafo.

Essa música “V de Vingança” é até curta justamente por causa disso só tem refrão no final foi realmente um desabafo era aquilo que eu precisava falar se eu me estendesse muito me tornaria repetitivo.

Cada música varia, tem um som chamado “Primeira Classe” eu falo sobre trabalhar e ganhar  dinheiro e o refrão fala primeira classe  porque eu quero que quando o moleque  escutar a minha música, que a primeira vez que ele entrar num avião ou em uma parada que ele se sinta na primeira classe, que ele lembre da minha música  que venha na hora a música na mente dele,  a inspiração vem desse tipo de coisa.

P.R.N: É muito visível no seu novo trabalho uma critica um protesto muito mais aguçado, fale um pouco desse momento das  criticas sociais nas músicas?

Rashid: Eu sempre tive dentro de mim mas eu acho que depois dos discos anteriores eu aprendi a falar da forma certa o que precisava ser dito  eu amadureci. Conseguir expressar melhor o que  estou sentindo , ser mais simples, sem deixar de ser incisivo, sem deixar de ser relevante acho que esses são os sinais desse amadurecimento.

Eu sempre tive essa parada na minha mente eu já fiz muitas músicas pesadas eu tenho uma serie de músicas chamadas Diário de Bordo eu pretendo fazer 5 e um dia vai virar um EP serão 5 músicas pesadas com 4 ou 5 minutos que serão  desabafos por isso da escolha do nome.

P.R.N: Você cita muito Facção Central e Racionais, em quais rappers  você se inspira ?

Rashid: Os rappers que mais me inspiraram na minha vida foram Mano Brown, Helhão, Edi Rock. XIS , Eli Efi do DMN, MV Bill,  Eduardo do Facção Central eu acho ele um dos melhores compositores. É muita gente , o Marechal é um cara que muito me inspira eu tenho muita influência do rap gospel também  DJ Alpiste e Apocalipse 16.

Estou tentando colocar tudo isso na minha música sem deixar de ser Rashid.

Quer saber mais sobre o Rashid, suas opiniões sobre o rap, mídia, questões sociais, projetos futuros, família e muito mais ?

Aguardem matéria especial com o mc estará também na próxima edição da Revista Rap Nacional.

Enquanto isso confira a resenha de 10 faixas da Mixtape

“Que Assim Seja” feita pelo próprio rapper

1- Que assim seja ( participação Flora Matos)

A primeira música da mixtape, quem vem como uma “oração do mensageiro”. Pedindo proteção, agradecendo e falando de alguns obstáculos do caminho. Uma música pra se sentir, não pra se entender. E a Flora Matos abençoou a música com a voz dela. Sem palavras!

2- Quero ver Segurar
Essa é pras ruas: grafiteiros, pixadores, MCs, B.Boys, DJs, lixeiros, garis, vendedores, pedreiros, pintores, camelôs… Pra todo mundo que de alguma forma bate de frente com as barreiras e faz a sua própria revolução, escreve sua própria história independente das ferramentas que estão disponíveis ali. “O mundo é louco, tá querendo te sugar, só que noiz é mais louco ainda, eu quero ver segurar!”

 

3- R.A.P
Uma exaltação ao rap. Tenho algumas músicas nesse sentido, mas já fazia um tempo que eu não lançava uma faixa falando diretamente de rap. Essa música expressa meus sentimentos e pensamentos sobre esse estilo musical que eu amo, e também quis mostrar pro público, pros fãs, que eles são uma parte do rap tão importante quanto os artistas. Por isso fiz o refrão: R.A.P, quem? R.U.A, noiz! Fiz isso pro público cantar!

9-Bom dia Guerreiro
Quando fiz essa música, eu pensei em fazer um som que fosse a primeira música do dia ouvida pelas pessoas que curtem meu trabalho. Aquela que quando a pessoa tá caminhando pro ponto de ônibus, às 6h30 da manhã, ela liga o MP3 e vai escutando. Aquela música que a pessoa põe de despertador. Uma ideia pra todos os trabalhadores. E não deu outra, recebemos centenas de recados por dia de gente falando que essa é a primeira música que elas escutam todos os dias, que é o despertador delas. Missão cumprida, essa era pra vocês mesmo!

10- Tudo ou Nada
Aquele momento que você sente uma coisa muito comum entre todos nós: dúvida. Quando você se sente impotente perante às circunstâncias, e acha que só pode fazer a sua parte e esperar acontecer. Acredito que todo mundo passa por esses momento na vida, e ai você pensa: agora é tudo ou nada! Naquele momento, quando eu fui morar sozinho com 19 anos, esse foi meu pensamento, e então esse pensamento vinha me visitar todo santo dia. E toda vez que eu me vejo obrigado a dar um passo muito grande na minha vida, e sinto medo de dar errado, duvido de mim mesmo, eu penso essa parada: agora é tudo ou nada. De vez em quando eu tenho essa sensação…

12- Muito mais
A frase “muito mais” no refrão têm vários sentidos. A gente merece muito mais, temos muito mais pra alcançar, mas a consequência é muito mais trabalho e muito mais gente falando sobre. É o “vai e vem” da vida real. A música fala de dificuldades e de transpor essas barreiras. De onde vem isso tem MUITO MAIS! É uma ideia que se encaixa em todos os estilos de vida, e no rap também.

13- Eu Te Avisei

Sem exceções, todos os sogros que eu já tive me olharam estranho a primeira vez que pisei na casa deles. rs
E sei que isso acontece com muita gente, pelo menos 99% dos adeptos ao Hip-Hop passam por isso. Então eu resolvi tratar isso de uma forma descontraída, dando destaque pra “história de amor” por trás desse fato também. “Eu Te Avisei’ não deixa de ser uma música de protesto, já que denuncia uma forma de preconceito, mas também é uma música romântica, que valoriza nossas mulheres e levanta a moral dos irmãos que já passaram por essa situação, incluindo eu. rs

14- Quando eu morrer
Essa foi minha primeira música gravada e lançada (como Rashid). Foi a música que fez algumas pessoas começarem a prestar atenção no meu trabalho. Foi lançada em 2008, mas eu quis relançá-l porque acho que muitas das ideias dessa faixa são muito relevantes pra quem está começando a batalhar pelo seu sonho agora. Foi um momento em que fui morar sozinho, aos 19 anos, sem fogão, sem geladeira, sem emprego. Então eu tinha esse pensamento: vou focar 24 horas por dia na minha música pra fazer isso virar, porque se algo acontecer comigo, sou só eu, eu não tenho outras bocas pra alimentar ou pessoas que dependam de mim. Essa música é um retrato disso, do chamado “foco na missão”.

15- Dama de Branco
Fala sobre cocaína. Nunca usei e nunca usarei, mas tive muito amigos e parentes consumidos por essa praga. Então eu quis relatar o que eu via e ouvia sobre o assunto. Vi pessoas se acabando por causa da cocaína, principalmente na época que morei em Minas Gerais. Lá, por incrível que pareça, mesmo sendo no interior, o consumo era mais descarado. Essa música é de 2009, mas achei importante trazê-la à tona de novo, já que milhares de pessoas por aí passam por isso. E já ouvi algumas histórias de gente que resolveu parar de cheirar depois de ouvir essa música… Essa era a meta, estamos conseguindo.

17- V de Vingança
A música é como um desabafo. Minha forma de dizer que o poder é do povo. É como quando você pega alguém, dá um chacoalhão na pessoa e diz: abre o olho, abre o olho! Não espere ninguém fazer por você, faça! às vezes, a corrupção no Brasil grita mais alto que a cultura, mais alto que o esforço do trabalhador, mas quem faz o país girar somos nós.

Curioso para escutar as músicas ?

Então baixe gratuitamente a mixtape

“Que Assim Seja”

 

Texto e Entrevista:

Paula Farias

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