Inédito: Conheça Larissa, a filha perdida de Sabotage

Que Sabotage é um mito poucos duvidam. Toda sua vida e morte é envolta em polêmicas, mesmo nas coisas mais simples, começando pela imprecisão da data de seu nascimento. Quando se trata de Sabotage, há controversas. Sua filha Larissa ficou famosa nas letras de seu rap.

“Brooklin, Brooklin
Larissa, Wanderson, Tamires, meus filhos”
(SABOTAGE. País da FomeRap é Compromisso. Cosa Nostra, 2002.)

Matéria retirada do Blog LiteraRUA, por Toni C.
Crédito das fotos Demetrios dos Santos Ferreira

Diferente de seus meios irmãos Wanderson e Tamires que podem ser vistos hoje apresentando as músicas do pai no grupo Família Sabotage ao lado do rapper Jota, Larissa filha de Ana Cristina nunca foi vista nem concedeu entrevistas. Tímida, inteligente, bonita e segundo sua mãe, as vezes bem teimosa, essa é a filha caçula de Sabotage.

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Foi durante as aulas no Leonina Santos Fortes que Sabotage arrumou uma mina. Até aí nada demais, caso ele não tivesse uma esposa e dois filhos.

“O ano letivo mal tinha iniciado quando policiais transformaram um dia tranquilo na escola. Interromperam as aulas entrando em todas as salas, olhando os estudantes um a um, até bater o olho em Maurinho. ‘É você mesmo!’, sentenciaram.” (C., Toni. Um Bom Lugar. p.75. LiteraRUA, 2013.)

Sem entender direito a situação, Maurinho pediu para seu amigo Bife e Ana Cristina o acompanharem, foi levado ao 43ª Distrito Policial.

Bife pediu para que Ana se passasse por sua namorada, avisou que a patroa do Maurinho estava a caminho e ela não poderia desconfiar de nada. Foi assim que Ana Cristina soube que ela era “a outra”. Custou acreditar. O fato do namorado estar preso já não era o mais preocupante, o estômago revirado deu um nó.

Hoje Ana Cristina se recorda do namorado destemido que atravessava a Washington Luís para ver o pai, indiferente à guerra entre as duas comunidades separada pela via. Ela se lembra de quando ele voltava revoltado da entrevista de emprego, chegaram a rasgar o currículo na cara dele.

Maurinho era capaz de encontrar os mais jovens pelos becos da favela na nóia, vendo bicho, levava o usuário para a casa e recomendava a mãe do rapaz: “Ele não está bom, dá um banho nele.” Numa ocasião quanto buscou a namorada no emprego em Moema, provocou a ira do patrão racista, ele a despediu, mesmo grávida.

Mas tudo isso foi há muitos anos, hoje com 16 anos e de férias da escola Larissa tem namorado, a mãe não gostou muito, mas achou melhor não proibir. Tinha praticamente a mesma idade quando chegou de madrugada da delegacia e levou uma surra de seus pais, sem revelar por onde andou.

A filha é ligeira, deu trabalho ao biógrafo até ser descoberta pelo editor do livro, postando fotos e letras de seu pai nas redes sociais. A primeira coisa que digitei a ela foi: “Você é a famosa Larissa?” Ela respondeu do outro lado da tela: “Sim, é mesmo. Mas famosa nem sou, acho que ninguém sabe como eu devo ser.”

Me questionou sobre o livro, queria saber o valor para compra-lo, enquanto eu me perguntava por onde andou todo esse tempo em que pesquisei e questionava a todos por onde andava a Larissa, sem sucesso. Uma semana depois estávamos nós num grande shopping da zona leste com o livro de seu pai em mãos.

Sem saber nos encontramos no mesmo lugar onde ela viu o pai pela última vez. Faziam compras de roupas para que a pequena com cinco anos passasse o fim de ano. Tarefa impossível, Sabotage após o filme, o disco, aparições na televisão, estava no auge e o assédio era tamanho que o impediu de concluir seu compromisso, até os vendedores pediam autógrafos, para tirar fotos… Enquanto Larissa sem entender, tinha receio do cabelo característico de seu pai. Seus amigos custam a acreditar, “Existem muitas Larissa no mundo” dizem quando descobrem que a menina da zona leste é filha de um dos mais importantes nomes do hip-hop nacional.

Larissa sempre teve interesse em conhecer melhor sua história, sua mãe nunca escondeu a identidade do pai, por outro lado enfrentou problemas com documentos, coisa que não combina com Sabotage.

Quando ela nasceu Mauro dizia que sua filha se chamaria Mariana Cristina, mas com o sumiço por uns dias de Mauro, Ana preferiu registrá-la mesmo sem o pai, e por pirraça com um novo nome de origem grega que significa “cheia de alegria”: Larissa.

Na carteirinha de vacinação até que ele deu um jeito, com ar intimidador, fez a enfermeira colocar a contra gosto como se tomasse uma Benzetacil: o “Mauro Mateus dos…” no campo destinado ao pai e “Santos” também no sobrenome da menina, mesmo sem ter documento algum para comprovar o vínculo familiar. Agora Maurinho ignorava o assédio e desejava reparar seus erros, lançou uma data: quinze de fevereiro de 2003, “Vamos no cartório registrar o meu nome como pai da Larissa”, propôs.

Mas ele não viveu para cumprir.

No dia 24 de janeiro daquele ano, Ana soube pela televisão do assassinato, o enterro foi a última vez que Larissa esteve com seus meio irmãos. Se passaram dez anos e também pela televisão reviu Wanderson e Tamires em reportagem do Alessandro Buzo, no começo do ano. O encontro virtual já aconteceu, eles passaram a se falar pela internet, agora ela deseja reencontrá-los pessoalmente.

A música de Sabotage preferida de Larissa é Mun-Ra, mas ela confessa que o rap não é seu gênero musical preferido, ela gosta mesmo de funk e pagode. Ai se o pai soubesse!

Sobre a influência do samba percebida na vida de Maurinho Ana insinua que tem sua parcela de culpa, sempre gostou de Exalta Samba.

 

Lançamento Oficial da Biografia do Sabotage – Itaú Cultural

09 e 10/07 (terça e quarta-feira) 17 hs

Av. Paulista, 149 – Bela Vista, São Paulo.

Telefone: (11) 2168-1777

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