Pernambucano prepara doc "Conexão Boston X Brasil"

Por Elaine Mafra | Fotos Divulgação

O sonho de trabalhar nos Estados Unidos, ganhar em dólar, ajudar a família e garantir um futuro mais tranquilo rodeia o pensamento dos brasileiros há décadas. Um sonho arriscado onde muitos tentam entrar ilegalmente e acabam morrendo no caminho, outros ultrapassam a fronteira e descobrem que a vida lá fora também pode ser muito sofrida. Poucos são os que conseguem se estabelecer e construir uma história, como é o caso do rapper Mano Branco Boston, que há 18 anos abandonou as ruas de Recife para tentar a vida na América do Norte. Mesmo morando em outro país o amor pelo Brasil e a preocupação com os brasileiros só aumentou. O rapper de Pernambuco é filho de americano e conseguiu com facilidade o visto para entrar nos Estados Unidos, mas viu de perto vários casos trágicos onde o sonho se tornou pesadelo e por isso está coordenando um projeto de conscientização sobre os riscos de tentar entrar ilegamente. Confira abaixo um bate-papo com Mano Branco Boston.

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Qual o objetivo do documentário que você esta produzindo?

Mano Branco Boston: Quero salvar vidas, evitar que brasileiros sejam enganados por coiotes e morram na ilusão de que nos Estados Unidos tudo é perfeito. Muitos nem conseguem passar, morrem no caminho e são deixados para trás. Mulheres são estupradas, homens são roubados e quem não sabe nadar morre afogado na travessia de um grande rio que separa o México dos Estados Unidos. Quem consegue entrar vive de forma ilegal e não pode nem tirar uma carteira de motorista, o que dificulta ainda mais e muitos nem conseguem um emprego. Vamos entrevistar pessoas que passaram por isso, que perderam amigos e parentes tentando entrar. São muitas histórias, muitas frustrações, mas com isso queremos chamar a atenção para que outros não cometam a mesma insanidade. Ainda estamos coletando as entrevistas, por isso não temos previsão de lançamento.

O seu envolvimento com o RAP começou enquanto ainda morava no Brasil?

Mano Branco Boston: Eu nasci e fui criado na periferia de Recife e lá a trilha sonora era o RAP, mas foi quando ouvi pela primeira vez “O homem na estrada”, de Racionais MC’s, que a minha vida se transformou. Foi através dos versos de Mano Brown que eu descobri que poderia expor minha opinão, cantar minha esperança e frustrações. Aqui em Boston continuo acompanhando tudo que é lançado no Brasil, ouço muito Racionais MC’s, A Família, Dexter, entre vários outros.

São Paulo vive um guerra não declarada, onde a polícia tem matado inocentes, principalmente negros e pobres. Essa questão tem repercutido em Boston?

Mano Branco Boston: Eu acompanho o dia a dia no Brasil e estou chocado com o  que vem acontecendo em São Paulo. Não que o fato de policiais matando pessoas inocentes seja novidade, mas agora tomou uma proporção muito grande. Eu nunca vou deixar de lutar contra a  violência que a polícia trata os negros e os pobres,  inclusive esse tema foi abordado na música que gravei com o  grupo Negrociação, de Florianópolis. Aqui  o trabaho da polícia é muito diferente, eles respeitam a população porque é muito fácil um policial ser afastado da corporação. Eles abordam as pessoas com dignidade, até porque o direito das pessoas ilegais é o mesmo dos cidadões americanos.

Você citou uma música que gravou com o Negrociação, esse som faz parte de algum disco?

Mano Branco Boston: A música faz parte do projeto Conexão Brasil x Boston, que reúne alguns talentos do rap brasileiro, como Preto Cria, Alemão, Preta MDA, Negrociação, entre outros. Tem também os que moram em Boston, que são: Mister Z, Rafa MC, Renato de Deus, Mensageiro Anonimo , MC Mortão, MC Fidel e alguns outros que não lembro agora…

Qual recado você deixa para os brasileiros que ainda sonham em viver nos Estados Unidos.

Mano Branco Boston: Não compensa arriscar a vida para tentar entrar. Se for para vir que seja de forma legal. Porque é impossível que algo que comece errado dê certo no final. Existe também o perigo de pessoas perderem a vida e isso é o que mais me incomoda, é por isso que estou empenhado nesse documentário. Conheci o caso de uma jovem que foi abusada três vezes e depois jogaram ela e o filho de seis anos no rio e os dois morreram afogados. São casos que não viram destaque na mídia, mas precisam ser divulgados para que as pessoas tenham noção dos riscos.

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