Marcelo D2 faz faixa-a-faixa do seu novo CD
Por: Estefani Medeiros
O título foi tirado de uma letra de Thaíde e DJ Hum. A produção é de Mário Caldato. O rap tem roupagem gringa. E as parcerias se misturam entre apostas estrangeiras e juvenis. Este é “Nada Pode Me Parar”, sexto álbum solo de Marcelo D2, lançado este mês, e que afasta o vocalista do Planet Hemp e da fase samba para contar como o rap salvou sua vida.
Vestindo camiseta do Def Leppard e meia quadriculada azul nas imagens do encarte, D2 canta sobre maconha, amor e viagens da vida, em um álbum que ele considera mais autobiográfico. Na mesma imagem, ele segura nas mãos o clássico beat da literatura “On The Road”: “Não tem nada mais hipster que [o autor] Jack Kerouac”, justifica.
D2 começa o disco com parcerias certeiras, que soam como o rap oldschool mais atraente do álbum: “MD2” com os espanhóis do Cooking Soul; e “Danger Zone”, com o rapper Aloe Blacc, de Los Angeles. Outra boa aposta é a primeira participação no disco com o filho Stefan, “Eu Já Sabia”, que cativa com refrão radiofônico e apresenta uma versão mais madura de “Lodeando”, lançada há dez anos em “A Procura da Batida Perfeita” (2003).
Ele perde um pouco a mão em “Eu Tenho o Poder”, em que a auto-ajuda excede o limite e soa pedante. Já em “Fella” –apesar de mostrar uma nova geração do rap com ConeCrewDiretoria e a banda de Stefan, Start — ainda soa crua. Com refrão de vocais infantis, D2 canta sobre amor em “Você Diz que o Amor Não Dói” e “Feeling Good”, inspiradas nas brigas que teve com a mulher durante a gravação disco. Ele ainda mostra que não consegue deixar o samba de lado em “Na Veia” e “Madame Bonfumé”.
Para explicar o álbum, o UOL convidou Marcelo D2 a fazer seu próprio faixa a faixa de “Nada Pode Me Parar”. Acompanhe abaixo:
“MD2” (A Sigla No Tag)
“Essa faixa tem uma coisa interessante: quem fez a batida são uns caras de Valência, na Espanha, que chamam Cooking Soul. Eu nunca vi esses caras na minha vida, conheci eles no Twitter e os caras já produziram Jay-Z e Kanye West. Aí, batendo um papo pelo Twitter, os caras me mandaram várias músicas, samples de música brasileira, e é engraçado porque essa faixa tem essa coisa da vida online que é meio outro mundo. Eu nunca conheci o cara e a gente tem duas músicas juntos. É uma apresentação.”
“Danger Zone” (com Aloe Blacc)
“Aloe Blacc eu conheci em uma festa dele em Los Angeles, chamada Do-Over, que aliás é super apropriado para o momento. Eu conhecia mais ele que o trabalho dele. E quando ele fez a música ‘I Need Dollar’ [do disco ‘Good Things’, de 2010], que estourou, eu não sabia que ele tinha esse poder vocal, que cantava tanto. Era uma música que tinha esse refrão em inglês [usado na música], piração, e chamei ele para fazer o rap. Queria que ele cantasse só o refrão e ele falou: ‘Mano, deixa eu fazer um rap’. Eu falei: ‘Lógico’. Ele mandou muito bem.”
“Eu Já Sabia” (com Sain e Helio Bentes)
“Essa foi a primeira música do disco a ficar pronta. O Sain é o meu filho, apelido dele. Esse foi o disco mais longo da minha vida. Comecei em 2011, e essa música é de 2011. E era para ser só eu e o Stefan, mas no refrão achei que precisa de uma voz nova, e veio o Helinho, que eu sou muito fã do reggae, acho o Ponto de Equilíbrio uma banda autêntica pra caramba. Ele deu essa voz que precisava.”
“Livre” (parceria com Pac Div)
“Esse foi um caso especial. Pac Div é uma banda que eu estava ouvindo pra caralho, esses caras são demais, e aí fui atrás. Aquela coisa de você encontrar qualquer pessoa em três ligações. Consegui trazer os caras, e ter eles no disco foi demais.”
“Você Diz Que o Amor Não Dói”
“Esse disco tem muitos produtores, alguns que eu já trabalhei e outros não. E o Renan, que produziu e me deu essa faixa, foi um cara que meu filho falou: ‘Po**a, você tem que ouvir o Renan. Ele produz para o Emicida’. Ele é um cara daqui de São Paulo que foi a primeira vez que a gente trabalhou junto, e ele que trouxe isso, uma música com refrão, cantada. Dentro do universo do videoclipe, essa faixa é importante porque o clipe foi gravado em Angola. A música é como um roteiro do vídeo.”
“Fella” (com Shock, do Start, Batoré, do ConeCrewDiretoria e Akira Presidente)
“Essa base foi produzida pelo meu filho, foi esse papo da conversa. Queria fazer música com os moleques mais novos, queria fazer uma música do Stefan e pedi para ele me mostrar uma coisa dele.”
“A Cara do Povo”
“É do Renan, mas é uma música que me voltou muito para o primeiro disco. É do Renan, mas poderia ser do Nuts, em 1998. O tipo de música que a gente tem procurado o tempo inteiro. E essa música é tipo: ‘Assim que eu toco os meus tambores, assim que eu quero que a minha música soe’. É isso.”
“Feeling Good” (com Joya Bravo)
“Na época do Planet Hemp, tinha um amigo meu que falou a vida inteira: ‘Um dia a gente vai ver você fazendo uma música sobre amor’. E eu falava ‘nem fodendo’. Acho que essa música é a prova. (risos)”
“Madame Bonfumé”
“É uma vinheta, essas viagens de estúdio. Falei: ‘Vamos fazer uma vinheta em francês’. Essa faixa é com a minha comadre falando em francês.”
“Está Chegando a Hora”
“Essa é do Papatinho, do ConeCrew. É um pouco de como os caras mais novos veem a minha música. É uma música single do disco, e é a segunda vez que eu sampleei Ivan Lins, e é a segunda vez que dá certo pra caramba. O Ivan Lins falou: ‘Da próxima vez não sampleia, me chama’.”
“Eu Tenho o Poder”
“É outra do Cooking Soul, os espanhóis da primeira faixa, e é sample de um tipo de música que eu gosto pra caramba, música brasileira da década de 1970.”
“Rio”
“É um contraponto a ‘021’ do Planet Hemp. O ‘021’ é aquela raiva, o ritmo é raiva, que é a cara do Planet. Lá é um Rio de Janeiro cheio de amargura. Aqui não, é exaltação à cidade, queria muito fazer uma música assim. Essa música começou com um samba. Eu tinha escrito como um samba.”
“4:20” (com Versus)
“É minha música de maconha. Todo disco tem que ter uma música de maconha, essa é a representante.”
“Na Veia”
“Essa música é a única que é tocada [com banda]. Gravamos no Eletric Lane, estúdio que o Jimi Hendrix gravou em Nova York, e acho que foi a primeira vez que gravaram um samba no estúdio. O Arlindo [Cruz, sambista] fez para mim, disse que era minha cara. Não era para entrar no disco, mas ficou tão boa que eu falei: ‘Vai ter que entrar’.”
“Vou Por Aí”
“É aquela coisa, eu já toquei em 25 países. Queria falar como o rap me levou para esses lugares. Eu tenho uma gratidão muito grande pela música, a música me fez um cara maior. Fez muito bem, quero ser um operário da música mais do que meu ego. Essa música é um pouco disso, quero mostrar que sou muito mais operário da música do que dono disso.”
Fonte: UOL