O sonho daqui é o sonho de lá: “Mundo Moderno (Shinsekai)”, o novo disco do artista Shin Shinoske, direto do Japão
Não se pode falar de Shin Shinoske, sem relembrar parte da origem afrodescendente do movimento artístico e culturalhip-hop. Nos anos 50 em Kingston, capital da Jamaica, as pessoas se reuniam ao lado dos sounds system para dançarem músicas, principalmente, estadunidenses, como o jazz e o heaven blues, conhecido também como r&b e levado, especialmente, pelos donos dos sounds system. Porém, houve uma queda de popularidade dele nos EUA, causando a sua ascensão na Jamaica. Assim, começaram a misturar o ritmo estadunidense com ritmos caribenhos, como o calipso e o mentos, o que resultou no r&b jamaicano. Todos esses movimentos deram origem aos gêneros jamaicanos: ska, rock steady e reggae.
Esse foi um dos contextos que proporcionou a chegada dessa cultura no Bronx, onde iniciou o que conhecemos hoje como o movimento hip-hop, com influência de artistas do funk, como James Brown. Então, bem como não se pode falar de Shin sem relembrar esse contexto de origem do hip-hop, não se pode falar dessa manifestação sem mencionar o reggae presente nesse cenário. O artista, devoto de Jah, carrega consigo todas essas raízes, cultuando o rastafarianismo – religião surgida também nos anos 50 na Jamaica contra a opressão de classe e o imperialismo britânico e norte-americano.
Nascido em São Paulo e com o falecimento precoce de seu pai, Shin se mudou para o Japão aos 23 anos com a intenção de poder comprar uma casa própria para sua mãe. Em suas palavras, lá havia espaço para acreditar em seus sonhos e continuar a luta que seus ancestrais já haviam iniciado, abrindo novas portas para aqueles que virão. Tudo está dentro de nós, mas é necessário iluminar.
Shin afirma que a música aconteceu em sua vida, ele aprendeu a produzir e a criar, desde a religião, ao esporte e aos aprendizados que obteve na rua, desejando sempre passar esse aprendizado para frente. Antes da música ele andava de skate e, o que mudou de lá para cá, é que agora ele anda um pouco menos devido às produções. O artista acredita que sua música é consequência de toda sua bagagem histórica-social, seja no beat, na letra, na atmosfera ou em seus olhos, a música para ele é um remédio espiritual. Na China, o kanji que se usa para escrever música é bem parecido com o da medicina, assim, a música cura, como antídotos atemporais para as nossas enfermidades.
Além disso, ele relaciona a música com o buraco de minhoca, a palavra cantada não é inédita, mas sempre tem alguém que se identifica com o modo que você passou a mensagem. Assim, ele encontra no rap, o diálogo com seu cotidiano, sua redenção, sua família, suas parcerias, sua utopia, seu universo e, sobretudo, um diálogo com as crianças que estão em sua volta, sendo essa, a parte mais importante. Ele acredita que é necessário cuidar delas, pois às vezes elas não ouvem o que você diz, mas fazem o que você faz.
Shin então é um artista urbano e, para ele, a cidade é isso. A música se torna um reflexo do Estado e o hip-hop o incomoda pois não foi ele quem criou. Shin ainda afirma que o Estado é tudo isso com um pouco de perfume. O capitalismo faz a gente ser refém do tempo e limita os nossos sonhos, mas o artista continua acreditando que os seus sonhos são realizáveis, é inspirador.
O hip-hop então, se torna a manifestação artística mais resistente quanto a luta social periférica do século XX, é a voz que aqueles marginalizados pela sociedade encontram para se expressar contra a necropolítica vivida e se reencontrar com a vida como forma de reescrever a história do país e perceberem que lugar deles é onde eles quiserem ocupar, o hip-hop é a voz da periferia para a periferia. A música tira as pessoas do crime.
Desse modo, a música sempre esteve presente em sua vida e como tudo o que é nosso sempre nos encontra, há sete anos e com todo o seu trabalho intercultural, criou o seu primeiro estúdio, Minokamo Rap Dojo Studio, onde recebe artistas de diversas nacionalidades, produzindo discos pelo mundo afora. Além da música, o artista domina outro elemento da cultura hip-hop, o graffiti.
Musicalmente falando, o ápice de sua carreira foi quando conheceu Jimmy Cliff, Shin relatou que o abraço dele fez a sua música melhorar. Além da música, o artista já participou do filme japonês “Família” e da parte dois do documentário “Do outro lado do mundo”. Contudo, ele ainda possui um sonho, voltar ao Brasil e ficar perto de sua família.
Shin é um admirável estudioso a respeito da história do mundo, vocês iriam adorar tomar um café em sua companhia e fazer parte de uma troca de conhecimento que mudará suas percepções de vida de uma maneira inigualável, aumentando as suas sensibilidades. Nós somos porque o outro existe. Mas, pensando bem, quem sabe consigam se aproximar desse diálogo ouvindo o seu novo disco, “Mundo Moderno (Shinsekai)”, que terá o primeiro single lançado no dia 24 de fevereiro, seu aniversário, convido vocês a prsenteá-lo.
O disco contará com 17 músicas lançadas separadamente e sua intenção é soltar uma por mês em todas as plataformas musicais do Japão e do Brasil. Cada single terá um tema que resultará em uma totalidade: um novo mundo, o seu mundo, o mundo de Shin, vocês não vão querer perder a oportunidade de conhecer esse artista mais de perto, né? Acompanhe o lançamento e descubra que mundo moderno é este que nós vivemos.
Os beats e a produção desse disco, produzido no Minokamo Rap Dojo Studio, estão sendo feitos pelo artista curitibano Duda Sanz, que agora também reside no Japão. Além disso, o disco reunirá artistas ilustres japoneses e brasileiros, como a Lyryca, o DJ Cia, o Sandrão RZO, o Sombra SNJ, o Kiko Latino, o DBS Gordão Chefe e o B.A.D Tribunal Popular/509-E. As letras foram escritas há 10 anos e agora apresentam uma nova roupagem, é necessário desconstruir para construir novamente. Assim, além de dialogar com vocês, Shin dialoga com ele mesmo ao longo do disco.