11 mil pessoas lotaram evento que levou Racionais, Thaíde, Dexter, Mc Gra e Haikaiss para Recife

Por Lenne Ferreira
Fotos  Armando Artoni

Break dance, MC, DJ e grafite. Todos os elementos da cultura hip hop estiveram presentes na primeira edição do Festival PE no Rap, que aconteceu na noite de ontem no Clube Português do Recife. Foram oito horas ininterruptas de música. O ápice veio com uma apresentação arrebatadora do grupo Racionais MC’s, que liderou uma legião de mais de 10 mil pessoas. Não faltou gogó para entoar os clássicos do quarteto paulista, que dividiu o palco com outros nomes do rap nacional.

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Racionais Crédito: Divulgação

Após 25 anos de carreira e quatro álbuns lançados, o grupo comandado por Mano Brown mostrou porque ocupa um lugar privilegiado no cenário do hip hop brasileiro. Não houve momento em que o público silenciou durante a aparição de Brown e seus companheiros, Ice Blue, Ed Rock e KL Jay. O poder de agregação do grupo ficou claro pela heterogeneidade da plateia. Uma reunião de tribos que evidenciou o quanto, para muitos, o Racionais não é só um grupo de rap, é quase uma entidade religiosa tendo na figura de Mano Brow uma espécie de “messias”.

Crédito: Divulgação

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Essa relação de aproximação entre artista-público ficou muito clara pela forma como cada rosto reagia às músicas tocadas. Eram como hinos. Mano Brown podia se calar ao microfone, como fez em vários momentos, que não correria o risco de perder nenhum trecho da letra. Qualquer pausa do vocalista era chance aproveitada pelo público, que arregalou o gogó diante de hits como “Jesus Chorou”, “Vida Loka” e “Negro Drama” (do álbum “Nada como um dia após o outro”, 2002), e “Diário de um detento” e “Rapaz Comum” (Sobrevivendo no Inferno, 1998). No pano de fundo do palco, a imagem de um curinga que foi grafitado ao longo do evento pelo pernambucano Galo de Souza.

Crédito: Divulgação

Antes do quarteto, subiu ao palco o cantor paulista Dexter, que se notabiliza pelo poder da rima no microfone. Ex-integrante do sistema prisional brasileiro, tendo cumprindo pena por 13 anos, Dexter fez o relato dessa experiência no premiado CD “Exilado Sim, Preso não”, de 2005, quando iniciou carreira. Em sua primeira passagem pela capital pernambucana, o rapper encontrou uma plateia afiada que mostrou intimidade com o repertório e cantou junto músicas como “O destino do réu” e “Como vai seu mundo”.

Thaide Crédito: Divulgação

breck dance tomou conta do PE no Rap durante a apresentação de outro ícone do rap nacional, o também paulista Thaíde, que foi a primeira grande atração da noite.  Ele fez questão de iniciar o show saudando os manos e as minas, destacando a importância do evento para o fortalecimento da cultura hip hop e agradecendo a produção do festival pela oportunidade de vir ao Recife. Mas quem se sentiu grato mesmo foi o público, que vibrou com os clássicos da época em que Thaíde cantava acompanhado por DJ Hum, nas décadas de 80 e 90. O show teve espaço para canções lendárias como “Apresento meu amigo” e “Senhor tempo bom”.

Direto do Alto José do Pinho, o rapper pernambucano Zé Brown (Faces do Subúrbio) aterrissou no palco do PE no Rap para uma participação especial e apresentou uma das faixas do seu CD solo, “Quero Ver”. Com o Dj Spike soltando as bases, Thaíde encerrou sua participação no PE no Rap colocando “todo mundo com a mão pra cima”.

Crédito: Divulgação

O palco do PE no Rap recebeu ainda o grupo Haikaiss, de São Paulo, formado pelo trio MC SPVIC, MC Spinardi e o DJ Qualy. O festival também deu espaço para novos nomes do rap a exemplo da paulista Mc Gra, que fez um pocket show antes dos Racionais. A aposta local foi o recifense Mc Chapa, de San Martim, que fez a abertura da festa e apresentou músicas do seu primeiro álbum intitulado “Tudo tem seu tempo”.

Os intervalos dos shows ficaram sob o comando de DJ Da Mata (Quinta Black) que foi feliz ao eleger clássicos do hip hop nacional (Sabotage, Black Alien), além de misturar funk, sky e dub no set list da noite. Durante a discotecagem, Da Mata convidou o DJ Daga (Quinta Black) para levantar o público, além de MC’s locais.

A produção do PE no Rap estima que cerca de 11 mil pessoas passaram pelo Clube Português ontem. Apesar dos atrasos (Racionais estava previsto para tocar às 2h, mas só entrou às 4h), o público resistiu com vigor. O festival foi bem sucedido na proposta de exaltar os pilares do movimento hip hop unindo discurso à prática social (por meio de doações feitas pelo público para entidades não governamentais). Era perto das 6h da manhã quando Racionais MC’s se despediu do Recife. O 7 de setembro amanheceu embalado por “Capítulo 4 Versículo 3”, “num estilo pesado que fez tremer o chão”.

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