Evento de Hip-Hop marca mês da mulher em Campinas

 

 

“Por amor, vou cantar onde quer que eu for
Que a liberdade conquistada por nóiz é um direito
E antes de falar qualquer coisa, quero respeito”
Atitude Feminina

 


Tema recorrente em fóruns, debates e palestras, a participação da mulher no Hip-Hop é um assunto que nunca cai no clichê, sempre existe algo a se descobrir ou relatar.

Espelho de uma sociedade machista, os homens pertencentes ao Hip-Hop por muitas vezes segregaram e discriminaram as mulheres que arriscavam fazer parte deste movimento, considerado livre, retrato dos oprimidos e marginalizados socialmente, mas, que muitas vezes escorrega em seu discurso, principalmente quando separa, julga e inferioriza.

De maneira sutil e delicada como toda mulher “deve” ser, elas meterem o pé na porta e quebraram tabus, paradigmas e algemas. Abriram os caminhos no peito e hoje refletem a realidade trilhada pela mulher enquanto seu papel na sociedade.

Diariamente as mulheres encarnam personagens de uma vida real e parafraseando Renan do grupo Inquérito “Ela é mulher, MC, mãe e às vezes, pai, não é fácil ser M ponto Aço, mas vai”. Vai à busca de ser simplesmente o que tem vontade.

No Hip-Hop algumas cantam, como é o caso de Sharylaine Sill, que começou no “bate lata” da São Bento e foi a primeira mulher MC a ter um registro fonográfico no estilo rap no Brasil.

Outras se identificam com as tintas como é o caso da Nina, da Waleska ou da Fernanda Sunega.

No break temos o exemplo da B.Girl Miwa, garota de humildade peculiar, compartilha seu dom no Brasil e fora do País também.

Quando o assunto é Discotecagem a DJ Simmone Lasdenhas é uma referência, rege com maestria uma orquestra de vinis.

Na somatória desses nomes dá-se vida ao Hip-Hop feito por mulheres, com batom ou sem, de salto ou de tênis, trajando saia ou calças largas, mas, acima de tudo Mulheres, assim mesmo, com “M” maiúsculo.

Há exatos dois anos, uma mulher influente no Rap, nos deixava, vítima de infecção hospitalar, vítima do descaso da saúde pública no Brasil, e principalmente vítima do destino, que precocemente agiu e fez com que Dina Di não estivesse mais entre nós.

Lembrada por muitos com enorme reverência, a morte da MC causou grande comoção no Hip-Hop, principalmente pelas circunstâncias do ocorrido, foi  depois der a luz à pequena Aline que o Hip-Hop viu a morte de Dina Di.

Por mais que falemos em guerreira, heroína, diva e tantos outros adjetivos atribuídos à artista, o que vemos é que assim como eu e tantas outras, Dina Di era uma mulher comum, que amava, chorava, tinha TPM e demais atributos característicos às mulheres.

As peculiaridades que faziam com que Dina Di fosse especial, e merecedora de todos adjetivos já citados, eram a voz pesada, a maneira firme de segurar o microfone, a olhar forte, o jeito de lançar palavras em bases e traduzir pensamentos e sentimentos, onde muitas iguais se identificavam.

Mazelas do cotidiano a fizeram ser quem era, as marcas da adolescência, da infância e da vida adulta, deram os temperos e os destemperos à vida e obra de Dina Di.

Desafio das Divas

[Demorei um pouco a chegar no tema central deste texto, pois alguns assuntos me motivam mais que outros e como mulher que faz parte do Hip-Hop a emoção tomou a simples ação de informar].

Neste final de semana acontece na cidade de Campinas o evento “Desafio das Divas”, organizado pelo grupo D.I.V.A.S com o apoio da companhia de dança Eclipse.

O objetivo do encontro é comemorar o mês das mulheres e exaltar o lado feminino da Cultura Hip-Hop, como o próprio nome do grupo organizador retrata em sua sigla: D.I.V.A.S. Desenvolvimento Integral Valorizando a Autoestima Social, segundo Andreza Soares, coordenadora do projeto comemorar as conquistas das mulheres é importante, mas o projeto vai além “queremos analisar, debater, informar, desenvolver um pensamento crítico e uma postura ativa para motivar as participantes a continuarem lutando por igualdade e respeito” pontua.

Como contra ponto a presença maçante feminina neste evento, o rapper Bruno Ments do grupo Ments foi convidado para compor uma das mesas de debate e expor o lado masculino, com o intuito de contextualizar a visão do gênero oposto sobre a participação da mulher no Hip-Hop.

Para conhecer um pouco o ponto de vista do rapper sobre o assunto que será tema do debate, Bruno passou por uma sabatina de perguntas.

Qual a importância da participação da mulher no Hip-Hop?

A mulher é tão importante no Hip-Hop quanto em qualquer outra atividade, a mulher transmite realidades e culturas e é grande parte do público que consome nossa cultura. Em se falando de Rap, que é a parte desse movimento a qual sou adepto, as mulheres necessitam que suas histórias, angústias, problemas pessoais, felicidades e tristezas, sejam narradas, sejam expostas e discutidas. Um Mc, não conseguiria narrar com exatidão de fatos, com clareza, com sentimentos como uma mulher faria, visto que ela é quem vive seus dramas e sabe exatamente o que falar e cantar. E isso acaba sendo auto-estima pra elas, e alerta para os homens abrirem a mente e verem que as mulheres hoje exercem um papel que vai além daquele de mera submissão, e precisam ser respeitadas por igual.

Você já teve alguma atitude ou mesmo pensamento preconceituoso para com alguma mulher no Hip-Hop? (seja sincero) Se sim nos conte como aconteceu?

Não, com certeza não, até porque na época em que eu estava engatinhando na cultura Hip-Hop, grandes nomes femininos já estavam firmados no Rap Nacional, nomes como Dina Di, Tum e Negra Lee, eu já ingressei respeitando-as, tanto que hoje ao meu ver, todo grupo que tem uma vocalista, já tem um diferencial, tem algo a mais, uma atração a parte.

Que nomes de mulheres você destaca como personagens importantes, que você admira na cultura?

Acho que a primeira que sempre será citada e lembrada merecidamente, é a Dina Di. Alem dela tem várias que admiro pelo conjunto da obra, mulheres, donas de casa, esposas e além de tudo partes atuantes em diferentes segmentos da cultura, e dentro dos quesitos, eu admiro a Lia que é vocalista do grupo 9MM, a Glenda que é líder e dançarina do grupo de streetdance FunkE, Elaine Mafra que é jornalista responsável pelo portal e revista Rap Nacional, Sandra, proprietária da loja Dedi Modas de Campinas que apóia diretamente a cultura local, Rosana Tavares, representante da Wu Brasil no Ceará e  responsável por muito do que acontece no Hip-Hop em Fortaleza, Shirley Casa Verde, vocalista do grupo Cagebe, as minas do grupo Palavra Feminina de Santa Catarina, Nina Fideles, jornalista, fotógrafa e assessora do grupo A Família, Cristiane Oliveira, jornalista e também assessora do Grupo Ments e o grupo Atitude Feminina.

Como era antigamente e como está hoje a visão masculina sobre as mulheres adeptas de alguma maneira ao Hip-Hop? O machismo ainda existe?

O machismo é algo que infelizmente sempre vai existir, ainda existem muitos homens que não sabem reconhecer as mulheres e seus devidos valores, mas acho que hoje o machismo no Hip-Hop diminuiu bastante, acredito que essa baixa positiva nos índices de machismo se deve a quem a muito tempo atrás conseguiu esse espaço na garra, persistência e também no talento, Dina Di,  ela partiu sem saber que deixou muito mais que grandes sucessos no Rap, seu legado trás a perseverança à muitos presentes na cultura atualmente.

Nos dias atuais já podemos considerar que existe uma igualdade entre homens e mulheres dentro do Hip-Hop?

Não, minha opinião essa diferença injusta entre homens e mulheres na sociedade em que vivemos, ainda reflete no Hip-Hop, mas dia a dia os nomes que citei acima e muitas outras estão encurtando a distancia, diminuindo essa tal desigualdade.

 


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